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CINEMA, MÚSICA, PINTURA

Este Blog é produzido e dirigido por:



Denison Souza, arte-educador, escritor free lancer;

meu trabalho já foi publicado no Jornal do Recôncavo e Correio da Bahia

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É chique ser pobre

Essa é de meu colega Professor Fidel:

O MITO DA NOSSA CAVERNA 
Tempos passados vivíamos no Brasil o romantismo da pobreza, travestida de cultura ou o estigma de uma classe. Os pobres eram lembrados em canções que faziam apologia à vida simples dos morros e favelas e imortalizadas, em letra e música, no cancioneiro nacional como Barracão de zinco, Ave Maria no morro, Saudosa maloca, Trem das onze e algumas outras. Nesse ínterim, as elites, no comando dos poderes públicos, “entendiam” que os pobres eram felizes em seu “status quo” e cuidavam de extrair-lhes, sorrateiramente, o voto e os serviços pouco ou nada qualificados, dando-lhes o falso sentimento de valorização e elevada auto-estima pelo simples contato com detentores de poder político, social e financeiro. Viviam na caverna, contemplando sombras sem perceber o quanto eram explorados e nem o mundo de luzes que havia lá fora. Desconheciam as oportunidades de acesso a uma educação de qualidade, por exemplo, que lhes capacitassem a ir além da necessária “assinatura” na folha de votação. Finalmente, o desenvolvimento social e tecnológico iluminou a caverna e de lá saíram, atônitos e encantados, como neo-alforriados, ávidos por inserção num mundo novo. Mas, como num passado mais remoto, não tinham estrutura para se inserirem no mundo legal e se apropriarem, dignamente, de tantos recursos e possibilidades, são, agora, cooptados pelo crime. De forma semelhante, as modernas tecnologias, lideradas pela internet e recursos computacionais, revelam que vivíamos em cavernas, onde a força que movia o mundo vinha do vigor físico (hoje a cargo das máquinas) e dos recursos financeiros.
Deslumbrados com tantas opções e possibilidades inexistentes no passado, questionamos: como a humanidade conseguiu sobreviver por tanto tempo sem os recursos, confortos e conveniências da pós-modernidade? Como a espécie humana sobreviveu e ainda sobrevive, em regiões remotas, sem água tratada, rede de esgotos, coleta regular de lixo e sua devida destinação; sem os avanços da medicina; sem o poder da mídia e dos recursos computacionais? Por outro lado, refletindo razoavelmente sobre a contemporaneidade, numa leitura crítica do nosso entorno social amplo, perguntaríamos: até onde e por quanto tempo a humanidade vai resistir às guerras tecnológicas; às várias formas de poluição; à incoerência do ser humano e sua incompatibilidade com seu semelhante? Até quando resistirá à ferocidade do capitalismo selvagem que supervaloriza o ter em detrimento do ser (humano), sob os auspícios das tecnologias, quando inapropriadamente aplicadas? Assumimos o risco de, egressos da caverna de Platão, adentrarmos a caverna dos gênios das tecnologias e vivermos nas sombras dos nossos valores mais nobres.
A polêmica se acirra porque as tecnologias, como a própria existência, repousam sobre valores ambivalentes, potencializando possibilidades para todos os propósitos. No plano temporal, tudo fica na dependência do único ser pensante: o homem. Estabelece-se, então o dilema: qual lado está aplicando “melhor” os avanços tecnológicos? Valeu a pena sair da caverna?
Diante de tantas considerações possíveis de serem levantadas, fica a esperança de que as tecnologias avancem e, paralelamente, o homem se re-humanize para usá-las para o bem. Para coibir a corrupção e o crime; para potencializar os processos de aprendizagem e melhorar a educação; para estimular o diálogo numa dimensão universal; para que a família reassuma seu relevante papel na sociedade e para que Deus permei a mente e o coração dos seres humanos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SOBRE O DEEP PURPLE

Entre a Sagrada Trindade do Heavy Metal: Sabbath, Zeppelin e Purple, considero o Deep Purple a melhor banda. O trunfo do Zeppelin talvez seja nunca ter mudado a formação inicial e sua performance ao vivo e o do Sabbath, a identidade heavy mais definida, mais purista. O Deep Purple vence pela qualidade instrumental dos seus discos de estúdio. A banda passou por diversas mudanças de formação, além de um hiato de oito anos (1976-84). As formações do período 1968-76 foram comumente chamadas de Mark I, II, III e IV. Sua segunda formação, a mais bem-sucedida comercialmente, contou com Ian Gillan (vocal), Ritchie Blackmore (guitarra), Jon Lord (teclado), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria). Esta formação esteve em atividade de 1969 a 1973, e foi reunida de 1984 a 1989 e, brevemente, em 1993, antes que as rixas entre Blackmore e os outros membros da banda se tornassem intransponíveis.
Jon Lord e Ian Paice foram os únicos integrantes que sempre estiveram presentes na banda em todas as fases. Mas, Don Airey substituiu Jon Lord nos teclados em 2002, fazendo de Ian Paice o único integrante que nunca saiu.
Os melhores discos da banda contam com os músicos Lord, Paice e Blackmore, como integrantes fixos, com exceção de Come Taste the Band, que é muito bom, e é sem Blackmore. Isso é interessante porque faz da banda a única da Tríade onde o vocalista não é a peça mais importante, mas, os músicos. A importância de Ozzy e Robert Plant são cruciais nas suas respectivas bandas, no Purple não ocorre isso. A marca da banda sempre foi a mistura de guitarra e teclado, com riffs simples e fortes e solos vigorosos. Sua canção mais conhecida é Smoke on the Water, gravada em 1972.

Fase inicial:

O primeiro disco, Shades of Deep Purple, com Rod Evans nos vocais, foi lançado em setembro de 1968. Recheado de regravações (incluindo versões progressivas de Help, dos Beatles, e Hey Joe, de Jimi Hendrix), o disco estourou nas paradas de sucesso dos EUA com uma música de Joe South: Hush, o primeiro single da banda. No disco já vemos todos os elementos musicais da banda. As viagens instrumentais – duelos entre teclados e guitarra - de Mandrake Root e And The Address já é bem a cara do Purple. Em I’m so Glad temos uma introdução demorada dos teclados, como em Lazy, anos depois. Eu gosto deste disco, mas, ainda é imaturo. Nota 7

O segundo disco: Em dezembro do mesmo ano, quando o segundo disco The Book of Taliesyn já havia sido lançado, eles fizeram sua primeira turnê na América, acompanhando o Cream. Apesar de estiloso no cantar, Rod Evans nunca foi lembrado como um vocalista importante do Purple. Só marcou Gillan e Coverdale. Também com regravações: River Deep, Mountain High (sucesso na voz de Tina Turner), We Can Work it Out (Beatles) e Kentucky Woman (Neil Diamond). A composição Wring That Neck sobreviveu, no setlist do grupo, à extinção da formação no ano seguinte. Foi o veículo de algumas das mais inspiradas trocas de solos entre Blackmore e Lord. Nota 6

O terceiro disco lançado na Inglaterra quando a nova formação, com Ian Gillan, com sua proposta sonora mais ousada, estreou. O primeiro vocalista da banda não dava gritos de banshee e não estava acompanhando o desenvolvimento dos outros integrantes da banda. Jon Lord também estava finalizando seu Concerto for Group & Orchestra; na verdade, este último mais uma realização de Lord do que da banda. Nota 6.

Nova Fase, In Rock, chegada de Gillan e Glover - Gritos

Nesse período, além de mostrarem o novo tipo de composição idealizado por Lord (unindo as linguagens da música erudita e do rock), os ingleses de todas as classes sociais conheceram Child in Time, composta ainda em Hanwell. A composição mostra tudo o que a nova formação trazia de novo em relação à anterior: mudanças de ritmo, solos poderosos, gritos de banshee e risadas diabólicas. O novo Deep Purple era elétrico e explosivo, e isso ficaria muito claro no primeiro disco da nova formação - In Rock, lançado em abril de 1970. Os ingleses puderam conhecer faixa por faixa do novo disco via BBC durante os vários meses que levaram ao lançamento. Conheceram inclusive faixas inéditas, como Jam Stew, e uma versão primitiva de Speed King chamada Kneel and Pray. Esta faixa de abertura já mostra um início confuso, explosivo, uma explosão como entrada....depois fica só o teclado com seu timbre leve...e então, entra o maravilhoso rock Speed King, uma maravilha do Deep Purple. O Hard rock surge daí. Nesta faixa os diálogos entre teclados e guitarras continuam forte. Belo début da voz de Gillan. A faixa seguinte Bloodsucker confirma a tradição heavy de associação com sangue. Um belo rock’n’roll...uma das faixas que eu mais gosto da banda. Child in Child é a música que mais chama a atenção pela complexidade. Esse é um disco de lado B muito bom. Adoro rocks quadrados e sem freios como Flight of the Rat (com frases e solos belíssimos de guitarra), Into The Fire – que eu adoro – e o quase heavy metal Hard Lovin Man (essa canção me lembra Jimi Hendrix na voz de Gillan, não fosse os gritos estridentes). Black Night é single desse tempo. Um sucesso. Que bateria maravilhosa...essa banda é uma farra mesmo...uma festa do bom rock’n’roll. Nota 10

Fireball, mais experimental

O segundo disco da Fase II foi Fireball, que mantém a eletricidade, mas, envereda por um caminho mais experimental. Até um country ("Anyone's Daughter") o disco inclui, ao lado de longos instrumentais como os de "Fools", músicas experimentais como “The Mule” e rocks mais próximos dos que havia no disco anterior, como "Strange Kind of Woman". A faixa de abertura “Fireball” mostra uma bateria furiosa e um entrosamento extraordinário. Há músicas levemente suingadas como “No no no”, e há mesmo uma deliciosa balada (quase um blues), sem ser meloso, no estilo Deep Purple, com um suingue bem legal: “Demons Eyes”. Os duelos entre os teclados e a guitarra estão impecáveis. Este disco é muito bom. Cruel mesmo...exemplo disso é a visceral e ritmada “No One Came”. Os shows da turnê de 1971, disponíveis apenas em gravações piratas, mostram uma banda mais madura e mais ousada. É nessa turnê que Ian Gillan começa a fazer duelos de sua voz com a guitarra de Blackmore, por exemplo. Nota 8.

Smoke on the Water & Machine Head, o melhor da banda

A gravação de Machine Head foi na Suiça. Talvez o melhor disco de todos os tempos da banda, com sua música mais famosa “Smoke on the Water”. A história inteira da gravação é contada em poucas palavras na música, a última a ser gravada no disco. Blackmore havia criado um riff que não fora usado. Não havia letra. Então veio a ideia de escrever sobre o que acontecera na gravação do disco. Gillan afirma que eles estavam num bar quando Roger Glover escreveu num guardanapo o título da música (que significava "fumaça sobre a água", uma boa descrição da fotografia que um jornal publicou no dia seguinte ao incêndio). Glover diz que a expressão lhe surgiu em um sonho e que Gillan lhe respondeu: "não vai rolar; parece nome de música sobre drogas, mas nós somos uma banda que bebe". O disco é quase todo tocado nos shows da banda desde então. “Highway Star” e “Lazy” também são marcos. Na verdade, o disco todo é impecável! O disco com melhor mixagem, som e entrosamento da banda. Nota 10

Who Do We Think, o mais negligenciado

O ano de 1972 é movimentadíssimo, e nele o Deep Purple chegou pela primeira vez ao Japão, onde foi gravado seu mais famoso disco ao vivo, Made in Japan; com esta formação, é um dos melhores AO VIVO de todos os tempos. Na Itália, o grupo também preparava a gravação de Who Do We Think We Are. Um ótimo disco negligenciado pelos fãs. Tem um belo hit: Woman from Tokio, presente em todos os setlists da banda. Canção com um recheio psicodélico no centro. Rocks deliciosos suingados como Mary Long, a deliciosa e riffada Super Trouper, com sua bateria de efeito, e outros presentes delicioso como Smooth Dancer, a misteriosa e gritada Rat Bat Blue...são canções maravilhosas...uma festa...que fazem o nome do Deep Purple e que eu adoro. O delicioso blues Place in Line dá um sal no tempero. O disco acaba bem com a boa e tranquila Our Lady. Grande disco sem temas ou riffs famosos. O ritmo de trabalho da banda, porém, custou caro a eles. Nota 9.

Terceira Fase, sem Gillan e Glover, mais suingada ainda: Burn

O primeiro novo integrante recrutado para o Deep Purple, logo após o fim da Fase II, foi o baixista Glenn Hughes, que cantava e tocava baixo no Trapeze. A dupla habilidade empolgou Blackmore e Lord, mas ele não seria deixado sozinho nos vocais. Enquanto seguia a busca pelo novo vocalista, o guitarrista Blackmore e Hughes iam se conhecendo e tocando juntos. O que se tornaria o blues "Mistreated", sem a letra, foi composto nessa época. A hipótese de tocar o grupo com apenas quatro membros foi cogitada, mas a ideia de ter dois vocalistas falou mais alto. Ai surgiu David Coverdale. Em 9 de setembro, o novo grupo se trancou por duas semanas no Castelo de Clearwell para compor. Empolgadíssimo, Coverdale escreveu quatro letras diferentes para a música que seria "Burn". Em novembro, foi gravado o disco Burn, novamente em Montreux, com a mesma unidade móvel dos Rolling Stones com que foi gravado Machine Head. A nova equipe estrearia no palco em 8 de dezembro, na Dinamarca. Era a estreia da Fase III do Deep Purple. O disco só sairia em 1974. É o melhor disco dessa formação. O novo som era marcado pela maior velocidade e técnica de Blackmore na guitarra e pela tensão entre os dois cantores. No estúdio, os duetos eram perfeitos. No palco, Hughes punha a trabalhar toda a potência de seus pulmões sempre que podia, muitas vezes chegando a intimidar Coverdale. O baixista e cantor também acrescentou à receita do Deep Purple uma boa pitada de tempero funky - que Blackmore aceitou inicialmente a contragosto, por entender que apesar de este estilo estar nas paradas de sucesso da época, não fazia parte, até então, dos elementos constitutivos do som do Deep Purple. Made in Europe, marca o melhor desempenho ao vivo e Burn, o melhor de estúdio dessa formação. O disco é todo bom. Nota 10.

Stormbringer, uma recaída

A terceira formação do Deep Purple acabaria um ano depois de California Jam, em 7 de abril de 1975, uma semana antes de Blackmore completar 30 anos de idade. Era a turnê de lançamento do disco Stormbringer na Europa. Com ainda mais balanço funk, o disco desagradou bastante a Blackmore. Metade do disco é bom. Há as boas Hold On, a rapidinha Lady Double Dealer e a funkyada High Ball Shooter, uma festa, além da canção que dá título ao disco, que eu considero a melhor canção do Purple. O resto do disco eu acho fraco. É um disco desigual. Nota 7.

Sem Blackmore - Come Taste the Band, o mais suingado de todos, muito bom

Blackmore já tinha algumas ideias na cabeça, e ao sair já tinha uma nova banda formada: o Rainbow. Decidiram continuar, convidando o guitarrista Tommy Bolin, o primeiro norte-americano a fazer parte do grupo. Com essa formação (Fase IV), gravam Come Taste the Band, ainda mais suingado. A turnê é complicada, um tanto devido aos problemas de Bolin e Hughes com drogas. Mas, é um disco delicioso. Sem quase ninguém da banda original, a banda não perde sua linguagem.Os slides de Bolin e a pegada especial nas cordas do baixo de Hughes dão um gosto diferente e revigorante no tempero da banda. O disco é todo delicioso e suingado. Uma festa. Nota 10.

Retorno fraco em 1984

Perfect Strangers é um disco moderno, bem anos 80, ruim, mas, marca o retorno da formação mais famosa do Deep Purple. Eu, particularmente, não gosto. Nota 4.

Purpendicular e Morse

Façamos justiça à banda. os melhores discos são dos anos 70, mas, com Steve Morse, em 1996, a banda se revitaliza e volta com um disco bom: Purpendicular, com baladas deliciosas, pesadas e hards bem no estilo Purple, trazendo novos elementos, porém valorizando os desafios entre guitarras e órgão que criou a identidade da banda.
Nota 8.

Nota 4: Perfect Strangers;
Nota 6: The Book of Taliesyn; D Purple III.
Nota 7: Shades of DP; Stormbringer;
Nota 8: Fireball; Purpendicular;
Nota 9: Who Do We Think We Are;
Nota 10: In Rock; Machine Head; Burn; Come Taste the Band;

Discografia – Só os melhores:
• Fase I
o Shades of Deep Purple, Setembro, 1968 Nota 6
o The Book of Taliesyn, Dezembro, 1968 Nota 6
o Deep Purple , Novembro, 1969 Nota 6
• Fase II - A
o In Rock, Junho, 1970 Nota 10
o Fireball, Setembro, 1971 Nota 8
o Machine Head, Março, 1972 Nota 10
o Who Do We Think We Are, Fevereiro, 1973 Nota 9
• Fase III
o Burn, Fevereiro, 1974 Nota 10
o Stormbringer, Dezembro, 1974 Nota 7
• Fase IV
o Come Taste the Band, Outubro, 1975 Nota 10

Melhores formações do Deep Purple
Fase I "MK I"
(1968-1969) • Rod Evans - vocais
• Ritchie Blackmore - guitarra
• Jon Lord - teclado
• Nick Simper - baixo
• Ian Paice - bateria

Fase II "MK II"
(1969-1973) • Ian Gillan - vocais
• Ritchie Blackmore - guitarra
• Jon Lord - teclado
• Roger Glover - baixo
• Ian Paice - bateria

Fase III "MK III"
(1973-1975) • David Coverdale - vocais
• Ritchie Blackmore - guitarra
• Jon Lord - teclado
• Glenn Hughes - baixo,vocais
• Ian Paice - bateria

Fase IV "MK IV"
(1975-1976) • David Coverdale - vocais
• Tommy Bolin - guitarra
• Jon Lord - teclado
• Glenn Hughes - baixo,vocais
• Ian Paice - bateria

sábado, 16 de abril de 2011

As obras da Música Elaborada que mais me impressionaram e 20 anos depois continuam me impressionando

Ravel:
O Concerto para Piano escrito apenas para a mão esquerda – para um oficial que perdera a mão direita na Grande Guerra - é a obra que mais me impressionou dentre todas as maravilhas musicais de Maurice Ravel. É uma gigantesca obra-prima do século XX. Outra peça orquestral notável é La Valse. Mas, em dimensão e grandiosidade, a coisa mais linda e complexa que Ravel já compôs foi Dafnis e Cloé, síntese de toda uma evolução raveliana. Seu Quarteto para Cordas em F maior também é uma obra emblemática; outra síntese de evolução - no caso aqui - em música de câmara. É um quarteto especial que me marcou muito. Outras obras de Ravel que me impressionaram são para piano: Gaspard de La Nuit e seu Piano Trio. Seu famoso Bolero é uma experiência orquestral um tanto quanto peculiar e notável.

Debussy:
Foi na música de câmara minha primeira abordagem impressionista. Ouvi na casa de um amigo a Sonata para Violino e Piano de Debussy e aquilo me pegou pela alma. A linguagem peculiar, habitando um mundo paralelo diferente do nosso, típica do Impressionismo, me deixou uma marca indelével. Há outras obras também impressionantes para piano solo, dos quais destaco Clair de Lune, Arabesque n.1 e La Plus que Lente. Na verdade, o universo pianístico de Debussy é delicioso, tanto quanto seu universo orquestral, coisa rara num compositor. Aliás, este mestre foi o único francês a desbancar a hegemonia alemã na música e superou Berlioz, o mestre maior da França até então; dessa forma, Debussy tornou-se, no difícil século XX, o maior compositor da França de todos os tempos. Marcou-me o balé Jeux e sua criação orquestral La Mer, talvez, sua obra mais madura; uma espetacular sinfonia velada, onde todos os truques e magias debussystas são apresentados de forma generosa e integral. O ambiente marinho nos é apresentado sinfonicamente por um amante do mar. Não me esqueço da perplexidade ao ouvir Syrinx, para flauta solo, pela primeira vez. Entretanto, é uma obra orquestral – e não de câmara - que me convenceu de sua genialidade fora do normal: Prelúdio para a Tarde de um Fauno, o marco inicial e um dos ápices de sua literatura. Claro que Debussy escreveu outras obras interessantes, mas, destaco nesta lista apenas as que mais me marcaram.

Stravinsky:
Este mestre russo que passou pela fase impressionista, classicista e serialista revela muitas facetas com individualidade. Gosto de todas as suas fases, mas, o que fez me apaixonar pela música de Stravinsky foi a Cantata Les Noces. Outra obra que me impressionou a ponto de cair o queixo foi Trehni, também para coro e solistas; ambas as obras construídas sob influência da Segunda Escola de Viena. Seus célebres Balés e Sinfonias são o que Stravinsky tem de mais sério e genial. Além disso, o mestre russo escreveu muita música descontraída, de grande inventividade timbrística, de uma beleza sincera e pura, como A História do Soldado, por exemplo, uma de suas obras que eu elejo dentre as favoritas.

Chopin:
Nada me contenta mais na música romântica destinada ao piano do que as quatro Baladas de Chopin. Do universo poético deste grande artista vale destacar os Prelúdios, os Estudos, os Noturnos, as Valsas, as Polonaises, sobretudo a gigantesca Polonaise-Fantasia op. 61. Mas, nada se compara com os 4 Scherzos e as 4 Baladas.

Mozart:
Este é o maior compositor do período clássico. Pior para Haydn, que foi um gênio, mas, ofuscado, de certa forma, pelo muito mais brilhante Mozart. E Beethoven, para se destacar, precisou superar o universo classicista para não ser esmagado pelo reinado de Mozart. Mas, por que Mozart é tão respeitado assim? Por causa da variedade de gêneros que abordou de forma genial. É o único, junto com Beethoven, que construiu obras notáveis em mais de cinco gêneros. Os outros se destacam em um ou dois gêneros. No máximo, três. Todas as obras mozartianas, em qualquer gênero, são belíssimas. Algumas ligeiras, outras mais elaboradas e algumas até mesmo sérias. As mais elaboradas me chamam mais atenção. Eu sempre coloquei a Grande Missa em C menor como a mais deliciosa obra de Mozart. Desde 2002 tenho pensado diferente; tenho percebido que a genialidade de Mozart está mais impressa em seus seis Quintetos para Cordas que vai do K174 ao K614. Outra obra no gênero quinteto que me assombrou foi o extraordinário Quinteto para Clarineta e Cordas K581. O Divertimento K563 também é uma obra assombrosa (o verbo é esse mesmo...Mozart me assombra! Sua música é divina); o divertimento é outro gênero que ele domina. Além dessas obras de câmara, o que mais me impressionou na música de Mozart foram os Concertos para piano n.20, n.21 “Elvira Madigan” e o de n.24, para mim, o mais assombroso; também as Sinfonias de n.29, n.35 “Haffner”, n.39, n.40 e n.41 “Jupiter”; a Missa da Coroação; a Sinfonia Concertante em Eb maior; e as Óperas Don Giovanni e A Flauta Mágica.

Beethoven:
Muita coisa me impressionou. A começar pelo Concerto Tríplice, que nem música é; parece uma suntuosa ponte ou um imponente arranha-céu. Outra obra gigantesca deste grande compositor é a Sonata para Violino e Piano “Kreutzer”; me diga o que é aquilo? Um gênero que poderia ser visto como menor, pequeno e leve, Beethoven o eleva às alturas da Arte Maior. O que Haydn fez com o gênero Sinfonia, elevando-o às alturas da arte filosófica, Beethoven o fez com as sonatas a due. As Sonatas para Cello e Piano também retratam poder e glória. Todas elas! E, como se não bastasse, de uma forma sem precedentes, o fez com a Sonata para Piano solo; a coleção de Beethoven neste gênero é um corpus artístico dos mais gloriosos da Humanidade. Em primeiro lugar, a Sonata para Piano “Hammerklavier”, mas, há outras sonatas que marcam a vida de qualquer um: as sonatas “Waldstein”, “Tempestade” e “Appassionata”. Como se não bastasse, ainda há as três últimas Sonatas, das quais, a op.111 é a coroa. Obras de uma genialidade sem precedentes. As aberturas orquestrais “Egmont” e Leonore n.3” são inesquecíveis. Os dois Trios op.70 e o Trio op.97 “Arquiduque” também são obras que me impressionaram muito. Não podemos nos esquecer dos Concertos para Piano de n.3 (o meu predileto) e de n.5 (o mais suntuoso). Quero destacar a beleza única de obras como os Quartetos “Razumovsky” e a Sonata para Piano e Violino Op.24 “Primavera”. Veja quantos gêneros Beethoven domina! Outro pináculo que assusta pela genialidade é a Missa Solemnis. Não podemos nos esquecer da sua única Ópera Fidélio. Das Sinfonias, destaco a Terceira, a Quinta, a Sexta, a Sétima e a Nona. Todas são únicas, geniais e incomparáveis. Os elogios não cabem aqui. Beethoven escreveu outros Everest´s, verdadeiros e eternos pináculos da Música Ocidental; são eles: As Variações Diabelli, a Grande Fuga para Quartetos de Cordas, as Bagatelas op.126 e os Quartetos para Cordas da fase final, que muitos consideram sua obra mais hermética e pessoal.

Bach:
Cheguei a uma conclusão em relação a Bach: o que me impressiona mesmo nele são seus concertos e sonatas a due. Claro que sua música coral é gloriosa, são obras sacras perfeitas, escritas de forma celestial. Mas, é na música instrumental que Bach conseguiu sintetizar a escola barroca. Sua música destinada para instrumento solo é de grande interesse para músicos e especialistas...é música um tanto científica e de grande inteligência, mas, nada me impressiona mais que os concertos e sonatas a due. Bach se tornou tão grande, que se alguém se interessar em estudar o período barroco na música, Bach se basta...não é preciso pesquisar mais nada. Ele resume tudo! Impressionei-me com a descontração de todas as suas Sonatas para Violino e Cravo, com o Concerto para dois Violinos em D menor, com todos os seus Concertos para Teclado e, sobretudo, com os Concertos de Brandenburgo. Aquilo não é música; aquilo é uma fábrica de tecido intelectual, rico em tramas e trançados. É um sério bordado musical sem precedentes na música barroca. Genial!

Haendel:
Haendel é muito menor que Bach. Mas, depois de Bach, talvez seja o maior compositor barroco. A verdade é que a obra coral de Haendel é mais acessível e divertida do que a de Bach. Quem não se impressionou com Acis and Galatea, de Haendel? E o Oratório O Messias, então, nem se fala. E o Concerto Grosso n.12, op.6? Essas três obras, apesar de seus oratórios e óperas esplêndidas, foram o que mais me marcaram em Haendel nesses 20 anos de música erudita.

Monteverdi:
Não são tanto suas óperas, nem a obra sacra, mas, o que mais me impressiona em Monteverdi são seus livros de Madrigais.

Vivaldi:
A afirmação de que o padre rosso repetiu o mesmo concerto mil vezes está certa, sim, mas, há que se fazer justiça com este revolucionário italiano. Há concertos de Vivaldi que deixam marcas. São espetaculares. Seja para piccolo, para flauta, bandolim, trompete, oboé ou cello...tudo é marcante e bonito como Veneza. Mas, alguns merecem destaque especial: Os concertos para flauta op.10, por exemplo, são diferenciados. Outro destaque é o Concerto para Piccolo RV443. Dentre os concertos para violino se destaca L’Estro Armonico op.3 e as célebres, mas, nunca enjoativas As Quatro Estações RV269. Fora os concertos, sua música sacra é também deliciosa, donde destaco seu Stabat Mater, o Glória, o Magnificat em G menor RV610, os Motetos, o maravilhoso Dixit Dominus e sua obra-prima sacra não litúrgica Juditha Triumphans.

Brahms:
Há obras de Brahms que eu idolatro e outras que eu não sinto mais vontade de ouvir. Quanto às obras que idolatro para todo o sempre estão todos os seus concertos: os dois Concertos para Piano, o Concerto Duplo e o Concerto para Violino. Neste gênero, Brahms se revela todo suntuoso, poderoso e glorioso. Qualquer que seja sua crença ou gosto, escute esses concertos; é o que há de mais suntuoso e intelectual na vida. Eu simplesmente ignoro as suas sinfonias, mas, estes concertos são o que ele tem de melhor. Além dos concertos, idolatro sua Rapsódia para Contralto, o Requiem Alemão, o Trio com Trompa op.40 e o excelente Quinteto op.111, a minha predileta em música de câmara. O resto é um trecho bom aqui, outro trecho chato ali...na verdade, Brahms não conseguiu transcender o classicismo de Mozart ou Beethoven, como Bach fez com a música barroca e Wagner fez com a música romântica, mas, essas obras em destaque são maravilhas do repertório mundial.

Bruckner:
As sinfonias deste compositor austríaco me marcaram muito pela personalidade, peso, densidade e poder. Destaco as Sinfonias n.4, n.7, n.8 e n.9.
Tchaikovsky:
Considero Tchaikovsky um compositor de terceiro escalão. Mas, é impressionante a feitura do Concerto n.1 para piano. Fiquei de queixo caído. Os Balés de Tchaikovsky são um clássico, mas, suas Sinfonias n.4, n.5 e n.6 são mais notórias.

Mendelssohn:
É outro compositor de terceiro escalão, mas, o célebre Concerto para Violino e a Abertura Hébridas merecem uma exceção. São magníficas.

Béla Bartók:
A música de Bartók é bonita e difícil. Seus quartetos são célebres, mas, não vejo dentre suas melhores obras (ainda!). Quatro obras do mestre Bartók me tiraram do sério – obras de primeira linha: seus Concertos n.2 e n.3 para piano, sua Sonata para dois Pianos e Percussão e, a mais maravilhosa delas, a Música para Cordas, Percussão e Celesta.

Mussorgsky:
Eu nunca me impressionei pelos Quadros de uma Exposição quanto pelas suas Canções e Danças da Morte ou pela Ópera Boris Godunov. A obra lírica do mestre russo me impressionou mais do que sua música instrumental.

Dvorak:
Não sou adepto da música dos tchecos ou nascidos na antiga Boêmia, muito menos da música de Dvorak, mas, seu Stabat Mater é o mais belo que já ouvi e me impressiona a cada audição.

Henze:
O Requiem de Henze, artista genial nascido depois da Primeira Grande Guerra, é uma das obras mais belas e marcantes do mundo contemporâneo.

Obras vocais extraordinárias:
As óperas de Wagner, Bizet e Richard Strauss me marcaram. A Walquíria, Tristão & Isolda, Parsifal, Pescadores de Pérolas, Carmen, Salomé e Elektra. A música de Bizet é mais deliciosa que todas as outras, a de Strauss é mais deliciosa que a de Wagner, este é mais genial.
A Deutsche Sinfonie e o Ciclo de Canções Hollywood Songbook, do compositor Eisler, são obras que me solicitam inúmeras audições prazerosas. É música do mais alto nível do século XX. Marcaram-me também as canções e obras vocais de Chausson, Schoenberg, Britten, Webern e Finzi.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Onde estão as grandes obras de escultura e pintura da Humanidade?

Seguindo um critério muito simples de considerar a quantidade de páginas reservadas para cada obra e a cidade onde estão as obras-primas mais valorizadas nos livros de História da Arte, realizei uma pesquisa dentre os 15 livros de arte mais respeitados no mundo e cheguei à seguinte conclusão:

As principais obras de arte estão nas seguintes cidades -

Amsterdam e Nápoles – 5 Madri e Munique – 7 Atenas – 8 Berlim – 10 Veneza e Nova York – 11 Viena – 16 Roma – 21 Florença – 22 Paris – 29 Londres – 70

1. Algumas obras-primas são encontradas nos Países Baixos. Amsterdam tem uma média de 5 obras-primas consideradas nos livros de História da Arte, devido ao valor dos pintores flamengos, como Vermeer, Rembrandt e Mondrian;

2. A Grécia, país importante quando se trata de Arte, possui 8 citações importantes na cidade de Atenas, 3 em Olímpia e 2 em outros lugares, devidos aos seus valiosos museus arqueológicos;

3. O Egito, devido ao Museu Egípcio, é lembrado em 2 obras-primas;

4. Outras cidades menos importantes – como S. Petersburgo, Praga e Istambul - só possuem 2 citações em média em seus países nos livros especializados;

5. A Suíça é citada em 7 obras-primas;

6. Mesma quantidade de obras em Madri: 7. Devido à presença de grandes gênios espanhóis da coleção real no Museu do Prado. E mais 2 obras em outros lugares;

7. Mas, o primeiro país europeu que surge como detentor de grande número de obras-primas da Humanidade é a Alemanha. 10 obras em Berlim, 7 em Munique e 12 no resto do país, totalizando 29 obras citadas, em média, nos livros especializados;

8. Outro país extraordinário é a América. Mesmo estando fora do continente europeu, Nova York detém 11 obras indispensáveis para a História, Boston, 2, Chicago, 2, Philadelfia, 2, Washington DC, 2 e no resto do país, 7 obras relevantes, totalizando 26 obras no total, quase alcançando a Alemanha. É notável que Nova York supera Berlim, Madri e Atenas;

9. A China que se diz um império só detém 4 obras históricas em todo o seu território; todas monumentos tumulares e típicos chineses. Nenhuma pintura importante;

10. A Áustria detém extraordinárias 17 obras, sendo 16 em Viena;

11. A Bélgica detém 9 obras por todo o país e 3 em Bruxelas, totalizando 12 obras;

12. Agora vamos aos países recordistas em obras-primas da Humanidade: França. Somente o Louvre, em Paris, é citado 15 vezes, em média, nos livros, superando todos os museus (juntos) de toda Nova York ou Berlim. O Museu D’Orsay, também em Paris, detém 6 citações, devido à fama do Impressionismo. Os outros museus da cidade são citados em 8 obras, totalizando 29 obras-primas só na capital. Um número impressionante! Nenhuma cidade detém tamanha quantidade de obras-primas, exceto Londres. Estávamos falando apenas da capital, mas, considerando as outras cidades francesas, temos 26 obras-primas, totalizando 55 obras essenciais em território francês;

13. A Itália, centro da Arte Clássica, Barroca e Renascentista, aparece em primeira colocada, como país. A Itália é o país mais artístico do mundo. O problema é que Roma, Florença, Nápoles, Vaticano e Veneza detém quase um terço de toda produção relevante da História. As ricas Igrejas e galerias e os ricos museus e palácios de Roma nos presenteiam com 21 obras-primas. Florença supera a capital federal com 22 obras essenciais, devido à quantidade de grandes gênios italianos em Florença. Incrível que uma cidade pequena como Florença detenha quase a mesma quantidade de obras essenciais de uma grande cidade como Paris. A riqueza artística da Itália é espantosa e é construída pelos artistas nativos. Veneza, pequena e serena, é citada 11 vezes, empatando com a imensa, agitada e poderosa Nova York. E os números não ficam por aí. O Vaticano praticamente é um microcosmo de explosão artística surpreendente dentro de Roma. É o menor lugar com mais quantidade de obras-primas de todo o mundo. O Vaticano detém 7 obras essenciais. É muito para um lugar tão pequeno. Nápoles surpreende com 5 obras, Siena com 3, Milão com 3, Pádua com 3, Ravenna com 2 e em outros lugares existem ainda 11 obras-primas. Totalizando 88 obras em todo o país. Impressionante!!!

14. O Reino Unido praticamente empata com a Itália com 82 obras ao todo, mas, o impressionante é que deste total, 70 obras-primas descansam apenas numa cidade: Londres, maior acervo metropolitano em pintura e escultura do mundo. Para se alcançar o numero de Londres seria preciso somar a quantidade de obras de Roma+Veneza+Florença+Louvre= 69...ainda assim falta uma obra para alcançar a capital britânica. Londres detém 70 obras. Para se entender a importância desta única obra que falta, a cidade de São Paulo não é citada nem por uma obra sequer, nem Moscou, nem Tóquio, nem Rio de Janeiro. Mas, apenas na National Gallery de Londres, estão 23 obras notáveis. Atenção: há mais obras-primas nesta única galeria do que em toda cidade de Florença!
O Museu Britânico também é um destino muito concorrido da capital e detém 11 citações. A Tate Gallery, 10 e a Wallace Collection, 6. E não pára por aí...a Victoria&Albert Museum possui 7 obras-primas essenciais. E outras maravilhas em outras instituições, totalizando 70 obras em toda a cidade. É de tirar o fôlego!!! Em outras cidades britânicas destacam-se 12 obras-primas, o que não é pouco.

Resumo paises:
Suíça e Vaticano – 7 Espanha – 9 Belgica – 12 Grécia – 13 Austria – 17 USA – 26 Alemanha – 29 França – 55 Reino Unido – 82 Itália – 88

Resumo cidades:
Amsterdam e Nápoles – 5 Madri e Munique – 7 Atenas – 8 Berlim – 10 Veneza e Nova York – 11 Viena – 16 Roma – 21 Florença – 22 Paris – 29 Londres – 70

Eis onde estão as obras-primas.

Texto original: Denison Rosario

Como definiríamos a importância de uma cidade? E quais as 10 cidades mais importantes?

Poderíamos levar em consideração as cidades mais populosas do Mundo para julgá-las como as mais importantes; neste contexto teríamos, em ordem, a Cidade do México, São Paulo, Nova York, Xangai, Cairo, Buenos Aires, Tókio, Calcutá, Bombaim, Seul, Los Angeles, Pequim, Rio de Janeiro, Jacarta (Indonésia) e empatando praticamente com a mesma população: Londres, Paris e Moscou; mas muitas cidades relevantes ficariam de fora desta seleção, sendo, portanto, um tanto quanto injusto seu critério.
Poderíamos considerar apenas as cidades dos países mais ricos, influentes e desenvolvidos do Mundo, que, em ordem, seriam Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Rússia, mas ainda assim estaríamos sendo parciais quanto à seleção. Para definirmos a importância de uma cidade proponho levarmos em conta a atividade humana presente no complexo metropolitano; a atividade humana numa cidade reveste-se de aspectos diversos: políticos, econômicos, culturais, artísticos, esportivos, religiosos, científicos, turísticos, comunicação e transporte.


Às vezes, também uma cidade pode entrar em nossa lista pela sua tradição histórica, mesmo que não seja mais tão influente em nossos dias, como Viena ou Veneza, por exemplo. Vamos considerar agora, inserido neste contexto rigoroso, as cidades mais importantes em todos os continentes, para depois definirmos as 20 cidades mais importantes do Mundo, para, finalmente, chegarmos até as 10 mais importantes, numa seleção restrita.

África - Três cidades são importantes neste continente se considerarmos este critério. Pretória e Bionfonten, na África do Sul e Cairo, no Egito.

América Central - Apenas a cidade de Cuba, em Havana, é importante.

América do Sul – Buenos Aires, Santiago, São Paulo e Rio de Janeiro são cidades importantes.

América do Norte – Montreal e Ottawa, no Canadá e Cidade do México, no país de mesmo nome. Nos Estados Unidos, por ser uma superpotência, várias cidades são importantes neste aspecto: Chicago, Nova York, Los Angeles, Indianápolis, Detroit, Cleveland, Filadélfia, Seattle, São Francisco, Dallas, Houston, Phoenix, San Diego, Miami, Denver, Baltimore, Washington DC, Boston e Memphis.

Ásia – Muitas cidades são importantes na Ásia: Jerusalém, Bagdá, Seul, Ancara. Na China temos Pequim e Hong Kong, na Índia temos Bombaim, Nova Delhi e Calcutá, no
Japão temos Tókio, Nagoya, Osaka, Kyoto e Shikoku.

Europa – Na península escandinava: Estocolmo em primeiro lugar, depois Helsinque, Oslo e Copenhagen;
Na península ibérica: Lisboa e Porto, em Portugal; Madri, Valencia, Andorra e Barcelona, além de Málaga, Córdoba, Sevilha e Zaragoza, na Espanha;
Na península itálica: Vaticano, Roma, Florença, Veneza, Milão, Nápoles e Bolonha.
No resto da Europa: Londres, Manchester, Birminghan, Stuttgart, Frankfurt, Leipzig, Munique, Berlim, Praga, Moscou, São Petersburgo, Bruxelas, Budapeste, Varsóvia, Viena, Amsterdã, Istambul, Atenas, Nice, Mônaco e Paris.

Austrália – A capital da Austrália, Canberra, é uma cidade muito importante, mas a cidade de Sidney se eleva como o foco de atenção internacional e é uma das mais importantes do Mundo.

De todas estas cidades, selecionaremos 20 cidades, apenas:
Nova York, Los Angeles, Chicago, Montreal, Cidade do México, São Paulo, Londres, Paris, Berlim, Milão, Roma, Barcelona, Madri, Viena, São Petersburgo, Moscou, Cairo, Sidney, Tókio e Hong Kong .

As 10 mais:
Nova York, Los Angeles,
Londres,
Paris,
Berlim,
Milão, Roma,
Madri,
Moscou,
Tókio.

Somente os Estados Unidos e a Itália possuem o privilégio de entrarem com duas cidades nesta lista restrita. Se fosse restringir um pouco mais eu deixaria apenas Nova York, Paris, Londres, Roma, Berlim e Tókio.

Denison Rosario

Quem são os mais importantes compositores da Música Erudita, em termos de importância histórica?

Seguindo um critério muito simples de considerar a quantidade de páginas reservadas para cada compositor, a importância histórica de cada mestre e a quantidade de obras-primas registradas nos livros de História da Música Ocidental, realizei uma pesquisa dentre os 9 livros especializados mais respeitados no mundo e cheguei à seguinte conclusão:

Compositores com nota 1: Bruckner, Dvorak, Kodaly, Purcell, Rachmaninov, Scriabin, Smetana e Hugo Wolf. São bons compositores do nível dos mestres do Jazz, como Coltrane ou Louis Armstrong, mas, com pouca importância histórica para a Música Elaborada;

Compositores com nota 2: Shostakovich, Palestrina, Prokofiev, Saint-Saens, Scarlatti, Tchaikovsky e Telemann. São mestres com uma certa importância histórica de valor nacional e algum impacto mundial;
Compositores com nota 3: Corelli, Couperin, Manuel de Falla, Fauré, Cezar-Franck, Mussorgsky, Puccini, Korsakov, Schutz, R. Strauss e Vivaldi. Mestres com certa influência global, inventivos;

Compositores com nota 4: Gluck, Meldelssohn, Monteverdi, Verdi, Mahler;

Compositores com nota 5: Ravel, Bartók, Berg, Webern, Chopin, Messiaen, Rameau, Rossini, Edgar Varése, Haendel. Mestres universais de influência mediana;

Compositores com nota 6: Brahms, Lully, Schumann, Schubert, Boulez. Mestres que representaram toda uma geração;

Compositores com nota 7: Compositores revolucionários, criaram algo novo: Berlioz, Haydn, Liszt e Stravinsky;

Compositores com nota 8: Compositores revolucionários de altíssimo nível: Debussy, Schoenberg e Wagner;

Compositores com nota 9,5: Mestres da síntese, da aglutinação de toda uma escola: Sebastian Bach e Wolfgang Mozart;

Compositor com nota 10: Beethoven, síntese e antítese de tudo que passou e que viria, nunca superado.

Texto: Denison Rosario

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Moda, Cultura e a Sensualidade

Existem 12 peças da moda, que fazem parte da cultura americana e européia, que são sensuais ao extremo.

O primeiro é a camiseta (T-shirt) que antes era uma peça íntima, que ficava por baixo da roupa, sensual, porque era colada ao corpo. James Dean e Marlon Brando ajudaram a divulgar essa peça como roupa exposta.

A segunda peça é a calça jeans, que foi criada para os mineradores, pois, suas calças de algodão rasgavam com facilidade no trabalho duro, então, a partir de um tecido chamado brim, vindo da Europa, que servia para fazer barracas, os americanos criaram uma calça resistente que seduziu toda a humanidade.

A terceira, quarta e quinta peças são o terno, o smoking e o vestido de gala, que são, por excelência, as roupas finas mais sexys do mundo. Deixam as pessoas que os usa sexy, porque denota poder e sucesso. E não há nada mais sedutor que o poder.

A sexta peça é o espartilho...que serve para afinar a cintura das mulheres, mas, também serve como enfeite do corpo. Sempre sai de moda e depois volta.

A sétima e oitava peças de moda são a bota e o sapato de salto tipo agulha...os pés são partes do corpo que podem ser muito sexys devido ao calçado...o couro dá o tom de sensualidade às botas e basta lembrar da sensualidade que nos revela uma mulher texana de chapéu e botas de cano longo...ou militares usando uniformes e botas de couro. Quanto ao sapato de salto tipo agulha, tecnologia possível apenas depois da Segunda Grande Guerra, onde um fino aço sustenta quase 100 quilos, é a postura que a agulha força a mulher a andar rebolando mais, andar mais elegante, colocar os seios para frente e o bumbum para trás, que os torna interessantes...e não apenas a beleza dos pés levantados.

A nona peça é o colete de couro, também presente na cultura européia e americana...nos faz lembrar motoqueiros e bad boys...é muito sexy.

E a última peça que queria colocar aqui é a lingerie...talvez a peça mais sexy do guarda-roupa feminino...

Eu acrescentaria o biquini e a sunga, apenas, com todas as suas variantes.

sábado, 15 de janeiro de 2011

COMPOSITORES UNIVERSAIS

Introdução:

Mestres de países marginais são curiosidades regionais. Não trataremos deles aqui. Mesmo oriundos da Europa, há alguns compositores que fazem parte do repertório mundial como Falla, Grieg, Dvorak, Cezar-Franck, Britten, Prokofiev ou Shostakovich, mas, vamos levar em conta apenas aqueles compositores realmente indispensáveis, aqueles que são universais.

A Europa é a Meca dos grandes mestres da música erudita, todos sabem disso, mas há bons compositores no Japão, Estados Unidos e América Latina...na África não há nada! No resto da Ásia ninguém conhece ninguém que tenha se dedicado à música erudita, salvo alguns malucos na Índia. Na Austrália há alguns mestres modernos que ainda é cedo para julgar, mas com certeza não vão entrar prá história. Quanto aos mestres das Américas e Japão, eles não são universais; representam meras curiosidades nacionais. No Brasil, os maiores nomes são Villa-Lobos e Carlos Gomes, que quase ninguém ouve, mesmo no Brasil, e, com todo respeito, não aparecem na História Universal ao lado de titãs como Wagner, Brahms, Mozart ou Chopin.

Mesmo em toda a Europa não surgiu mais ninguém digno dos mestres do passado. Um dos casos curiosos é o da Holanda, que foi Meca de grandes artistas, mas, não na música erudita. O caso mais curioso mesmo é o da Inglaterra, que exportou grandes nomes da música pop, mas, não há um nome erudito de peso em seu território, apesar do talento de um Elgar, de um Britten ou de um Purcel.
Vamos aos mestres classe A:


1. A Alemanha e a Áustria reinam absolutas:
Os mestres de língua alemã dominam o cenário, desde o surgimento, no período barroco, de dois grandes compositores alemães: Haendel e Sebastian Bach. Depois surgiu a primeira escola de Viena, com Haydn e Mozart. O surgimento extraordinário de Beethoven, alemão que viveu em Viena. Em seguida o período romântico alemão representado por Schumann, Mendelssohn, Brahms e Wagner, esses dois últimos, gigantes da música erudita e a Áustria representada por Schubert, Bruckner e a família Strauss, com suas deliciosas valsas. Entre o Romantismo e a Música Moderna surgiram dois grandes mestres: Mahler e Richard Strauss...e a segunda escola de Viena: Schoenberg, Alban Berg e Webern. Sendo que só estudiosos ouvem esses três últimos. Esses são os principais nomes da música na língua alemã.

2. A Itália detém grandes compositores de ópera em todos os períodos:
Desde o surgimento da música instrumental, em Veneza, cujo ápice é alcançado por Paganini, elaborada em seus primórdios por Corelli e Vivaldi, que a Itália nunca parou de exportar grandes mestres. Vivaldi, por sinal, além de instrumentista, também grande compositor de óperas; em seguida, o reinado italiano da ópera segue com Rossini, depois Verdi, depois Puccini. Esses são os principais compositores da Itália.

3. A França é muito respeitada:
Desde os primórdios com a Escola de Notre Dame de Paris e durante todo o século XIX, quando grandes músicos foram acolhidos pela França, como, p. ex., Chopin e Liszt; mas, seu primeiro grande compositor foi Berlioz, já no período pré-romântico. Há outros mestres ao longo de sua história: Rameau, Messiaen, Saint Saens, Fauré, etc.; mas, o grande compositor da França, capaz de desafiar os maiores mestres alemães é Debussy. E o último grande mestre é Ravel.

4. A Rússia está bem representada com nomes de peso universal:
A Rússia no período romântico nos legou Tchaikovsky, um dos mais respeitados mestres do balé russo e da música sinfônica fora da Áustria. Além disso, deu origem ao Grupo dos Cinco, dos quais Mussorgsky, talvez seja o mais genial e criativo. A Rússia nos deixou também o grande Rachmaninov e, na fase moderna, mestres como Shostakovich e Prokofiev; além do maior e mais versátil compositor moderno: Igor Stravinsky.

5. Outros países europeus:
Os únicos compositores realmente indispensáveis e de importância universal, que não são alemães, austríacos, franceses, russos e nem italianos, são Liszt e Bartók (da Hungria) e Chopin (da Polônia). Só!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entrevista sobre pintura e música com Denison Rosario

Uma pequena entrevista sobre música e pintura ( 2002 )
Depois de uma palestra, dei uma pequena entrevista para o jornal universitário.
Eis o texto, na íntegra:

P – Qual o período mais rico da música erudita e da pintura, na sua opinião?
Denison: Eu diria que, em termos elementais, foi o do séc. XVII e, sobretudo, o XVIII. Mas, se levarmos em conta a linguagem pessoal e a diversidade formal, o século XX se revela mais rico. Aaron Copland não concordaria comigo, mas considero os artistas do séc. XX mais pessoais do que os antigos românticos. Eles, os românticos, apenas conseguem conciliar, com mais eficácia, uma linguagem pessoal com um objetivo universal.

P – Século XX, rico? Não se diz que neste século a arte se tornou vazia?
D: Só os cegos enxergam isso. Neste século os paradigmas se multiplicaram.
Os artistas do século passado do séc. XX são os mais personalizados, porque com a fragmentação das idéias após a eclosão das duas Grandes Guerras e o desmantelamento das bases sólidas, com invenções como o cinema, a fotografia e o registro sonoro em discos, os criadores fragmentaram e individualizaram suas idéias. Na pintura do século XX há gênios do nível de um Michelângelo ou Rafael. Henri Matisse, por exemplo, um líder nato, é um Rafael moderno. Picasso, capaz de assustar discípulos, titânico em seu altar, é um Michelângelo moderno. Há outros gênios...Francis Bacon, Franck Auerbach, Willen De Kooning, Paul Klee, Balthus ( morto em 2001 ), Dalí...há mais gênios no séc. XX que em qualquer época, tanto na música quanto na pintura.

P – Na música, talvez não. A Segunda Escola de Viena não assassinou a harmonia?
D: Isso é um absurdo! No séc. XX, a harmonia apenas continuou evoluindo, nada foi assassinado. Em nenhum momento histórico deixou de evoluir. A música de Schoenberg é tão fina, delicada, sofisticada quanto a música de Schumann ou a de Brahms. E igualmente intelectual, sendo que, particularmente, acho mais fácil ouvir obras líricas de Schoenberg do que suas obras instrumentais. Entretanto, apesar da revolução harmônica, vejo-o um criador conservador, herdeiro do romantismo, cheio daquilo que chamo de nostalgia tonal. Criou todo um sistema, mas não conseguiu se desvencilhar do romantismo.
Alban Berg é um romântico maravilhoso. Mas não um romântico piegas. Sua música é de um romantismo desfigurado, que eu adoro. E Webern? Um monstro. Criou um universo particular – comparável ao universo de Debussy – que é só dele. Foi o único da Escola de Viena que conseguiu, de fato, algo novo.
Sua música é atômica, detalhista, você ouve cada timbre, cada acorde é um acontecimento, livre do romantismo. É como o embrião do Universo, a música das esferas. Adoro tudo de Anton Webern, mas tenho consciência que não é acessível a todos. Aliás, gosto desses compositores que criaram um mundo próprio; Satie, Messiaen...o mundo deles é extravagante e particular, mas não é vulgar. Eu me emocionei em conhecer Avignon, no sul da França, onde o espírito musical de Messiaen ainda circula no ar da cidade. Messiaen era original. Eu conheci a filha de Messiaen tentando divulgar a obra do pai na Catedral Basílica de Salvador. É perigoso ser original. Uma pena que as pessoas não se esforcem em conhecer arte moderna, pois só é possível amar algo que se conhece. E as pessoas criticam sem conhecer. E o que me impressiona é que em todas as artes, seja na literatura, no cinema, nas artes plásticas, os jovens tem acesso primeiro ao contemporâneo, depois, com a maturidade, passa a se conhecer as obras dos antigos, dos clássicos. Na música, ao contrário, se prendem ao antigo e pronto. Isso é lamentável. Sabe que eu, aos trinta e poucos anos ouvia obras de compositores eruditos que tinham pouco mais que minha idade?

P – Você disse que o mundo de um Satie ou de um Messiaen não é vulgar. E existe artista vulgar?
D: Claro. Carl Orff, Cage, Glass e Gorecki são exemplos de artistas pequenos, vulgares, picaretas. É possível vermos os concertos de Paganini como algo mais exibicionista do que artístico. Salvador Dalí, em alguns momentos, foi hipócrita. Rodin, também, mas só às vezes. Andrea del Verrocchio pintava mal e Bernardino Luini, apesar de dominar bem a técnica, era uma imitação barata de Da Vinci. Gentileschi também não me convence. Parece um cover do Caravaggio.

P – Há pintores e compositores consagrados que você não goste?
D: Vários. Detesto a linha afetada maneirista de um Rosso, Pontormo, Bronzino...o único maneirista que se salva é El Greco. Não gosto do Neo Classicismo de um Jacques-Louis David, mas já gosto de Ingres. Não me emociono com um quadro de Poussin ou Lorrain, pelo classicismo forçado. O modismo em torno de Monet e Van Gogh é um saco! Eles são bons, mas não são únicos. Acho que a super valorização em torno deles atrapalha a apreciação. Nunca vi beleza em Goya, confesso. Não gosto das paisagens de Constable. Gentileschi pinta bem, mas é uma imitação barata de Caravaggio. Não suporto pintura Rococó, só se for de Boucher ou Tiepolo. E descarto todos os românticos, menos Delacroix e Turner. Pintura abstrata, nem pensar. Dos compositores, não gosto de Prokofiev, Cezar Franck, Sibelius, Grieg, Hindemith, Janacek e Martinu...Mendelssohn é bom, mas não oferece nada de novo. Acho a estrutura de Dvorak desigual. Fazer o que?

P – O que acha dos românticos?
D: Seja na música ou na pintura, a arte romântica é, muitas vezes, afetada, excessiva, desequilibrada. Essencial historicamente, mas não faz meu tipo ouvir horas e horas de Schumann ou Mendelssohn. Prefiro os românticos avançados, desfigurados: Wagner, Mahler, Berg, Debussy, Liszt ou Chopin. Quanto a Brahms - essa mistura perfeita de Schubert, Beethoven e Schumann - não vou colocar no meio, pois é inclassificável.
Gosto de música avançada. O Barroco é avançado, o Moderno é avançado, o Romantismo inicial, não. Assim como o período clássico também não é avançado. Na pintura também não prefiro os românticos. Fico com os modernos, renascentistas e barrocos, apesar de, por ironia, um dos quadros que mais me intriga é do pintor romântico Géricault, A Jangada do Medusa.

P – Disse que não gosta da pintura Neo Clássica. E gosta de Música Clássica?
D – Não. Desprezo todos os compositores deste período, com três exceções. Apenas idolatro Mozart, Beethoven e respeito Haydn. E só. Haydn, gosto de tudo, mas não me empolga tanto quanto Mozart, que possui uma música graciosa, fora do normal, se destacando de tudo que fosse de seu tempo. Beethoven é o meu compositor predileto e não é clássico - como dizem - ele é inclassificável. Apenas sua primeira fase é clássica. Pena que ele nasceu no período clássico, pois se tivesse sido do séc. XX teria mais liberdade ainda.
A pintura neo-clássica também não me interessa; sua retidão, sua imitação grega e sua pretensão em vão não funcionaram. Tanto a escola pictórica quanto a musical não durou muito, pois são mais retrocessos do que evoluções. A música Clássica, para evoluir, precisou retornar onde Bach e Haendel pararam.

P – E a música e pintura antiga? O que acha?
D: Parece tudo igual, mas não é. Nas artes plásticas, Giotto chama a atenção pela originalidade, ainda no período gótico, abrindo as portas para a Renascença. Sassetta e G. Bellini são gênios do séc. XV que profetizam a pintura surrealista e ingênua de um H. Rosseau. É uma época de descobertas, carregada de ingenuidade e de beleza, com exceção de Bosch. Gosto de Michelangelo mais como escultor, na pintura fico com Rafael e Da Vinci. Os italianos são notáveis, mas não podemos nos esquecer da Europa Setentrional de um Holbein ou Campin, além de outros artistas internacionais; todos descobriram técnicas e estilos. É arte muito bela, mas é preciso não se prender à beleza gótica, renascentista e barroca apenas. Há muita genialidade depois da Primeira Guerra.
Na música, o canto a capella parece tudo igual, mas há diferenças. Eu ouço coisas avançadas em um Gesualdo. Palestrina e Josquin De Prèz são distintos também dos outros. Ockeghem e Monteverdi são inventores gigantescos.
A música antiga pertence à Inglaterra, Itália, França, Holanda e só.

P – O que acha da pintura abstrata?
D: Piet Mondrian tem um estilo que evoluiu naturalmente para o abstrato, que eu respeito e admiro. Turner, ainda no romantismo, já era um abstrato, sem intenção de sê-lo, e eu o considero um dos cinco maiores pintores de toda a História. Os impressionistas e cubistas tendiam para o abstrato, e eu gosto deles. Mas, em se tratando de arte abstrata mesmo, não gosto. Prefiro o figurativo. É mais humano. Gosto da divagação abstrata na poesia literária, mas não admiro na música ou na pintura.

P – E quando música e pintura ficam submetidas a textos literários?
D: Na pintura acho que funciona. Mas na música é meio estranho. Acho mais sincera a proposta de Saint Saens ou de Brahms, mestres que odiavam submeter suas obras a textos literários, do que as idéias ilusionistas de Liszt ou Berlioz, que tentam adaptar textos. Aliás, uma das maiores vitórias do séc. XX foi retornar à idéia do séc. XVIII de música pura, sem influência de textos.
Quando ouço Liszt, R. Strauss ou Berlioz, prefiro nem saber em que texto se basearam, até porque é uma ilusão mostrar em música uma idéia literária. Isso funciona na ópera ou no balé, que por sinal, prefiro ver ao vivo a ouvir em Cd’s. Aliás, é inviável OUVIR óperas. Balé até se passa por poema sinfônico numa audição, mas ópera não dá. Só vendo mesmo.

P – O que gosta no Barroco?
D: Na pintura, idolatro Caravaggio, Rubens e Rembrandt. Já não gosto muito da escola Rococó e do Maneirismo, que são parentes do Barroco. Na música, o ápice, para mim, é a música vocal de Haendel e a música instrumental de Bach. Não é toda hora que estou disposto a ouvir a obra coral comportada de Bach, mas sua música instrumental é a melhor. Com Haendel, é o contrário.
Fora eles, gosto da obra, não importa o gênero, de Vivaldi, mas tenho consciência de que é um compositor que não evoluiu. Criou algo novo e parou ali, como a maioria dos italianos.

P – Quais os compositores que você gostaria de ter a obra completa para ouvir?
D: São poucos. Vivaldi, Mozart, Beethoven, Saint Saens, Chopin, Debussy, Stravinsky, Ravel e Webern. Gosto de qualquer coisa deles. Compositores como Haydn ou Berlioz, gosto de tudo, mas não justifica investir na obra completa.
Dos outros compositores gosto de parte de suas obras. Por exemplo, como disse, gosto do Bach instrumental e do Haendel vocal. Admiro as óperas de R. Strauss e as obras de Liszt, mas não tenho prazer em escutar seus poemas sinfônicos.
Adoro as canções e obras líricas de Mahler, Britten, Finzi e Fauré, mas suas obras puramente instrumentais não me gratificam intelectualmente, com exceção das Sinfonias de Mahler, que são maravilhosas. Falando em sinfonias, admiro muito as Sinfonias de Bruckner, dos quais tenho todas disponíveis para ouvir. Gosto de algumas obras de Brahms, mas não tudo, sendo que as obras dele que gosto, amo mesmo, prá valer. O mesmo não ocorre com Schumann, Wagner, Mendelssohn, Schubert ou Tchaikovsky, que gosto de algumas poucas obras, mas não me enchem os olhos. Estou sendo sincero. Da obra de Shostakovich só gosto dos concertos. Outra coisa...gosto da música orquestral de Bela Bartok, mas acho desagradável toda a sua música para piano solo e para dois instrumentos. Não é que não entenda, acho chata mesmo. Gostaria de ter todos os cadernos de madrigais de Monteverdi. Um tesouro! A obra para teclado de Rameau e Frescobaldi. As sinfonias de Bruckner e Nilsen para mim são as melhores já escritas depois de Beethoven.

P – E qual a sua relação com Beethoven?
D: Gosto de tudo que escreveu. E olha que são obras bem diferentes umas das outras. Destaco aqui as sinfonias ímpares, a partir da Terceira, o concerto Tríplice, os concertos p/ piano 3, 4 & 5, as Variações Diabelli p/ piano, as Sonatas p/ piano A Tempestade, Appassionatta, Hammerklavier e a op. 111, a Missa Solemnis e os últimos quartetos. Tenho tudo de Beethoven. Até mesmo um busto dele em minha sala, como Brahms tinha.

P – E Mozart?
D: Eu me impressionei com a música dele, mas depois deixei de lado. Enjoei. Achei que era tudo igual e tal. Só deixei reservada a Grande Missa em Cm como a obra máxima de Mozart, a que eu mais respeitava. Depois de muito tempo descobri seus quintetos e minha visão de Mozart deu uma reviravolta. Passei a escutar a sua obra em geral com admiração renovada. Voltei a me apaixonar por tudo de Mozart. Destaco seus quintetos em geral, a Missa em Cm, as sinfonias 25-41, Don Giovanni, Flauta Mágica, os concertos p/ piano 18-27, os concertos p/ instrumentos de sopro, a Sinfonia Concertante, as sonatas p/ piano mais maduras e suas sonatas para violino e piano. Não é muita coisa?

P – E Debussy, Stravinsky, Ravel?
D: Os outros que citei como os que gosto de tudo, gosto de tudo mesmo. Vivaldi é gostoso de se ouvir em qualquer gênero. Webern, Ravel, Saint Saens e Chopin não destaco nada. Tudo é bom. Adoro a clareza da música de Saint Saens, apesar de admitir que ele não é tão genial, mas Vivaldi também não é um Bach e eu prefiro ouvir tudo de Vivaldi; nem tudo de Bach eu estou sempre disposto a ouvir. Quanto a Ravel, ele é um mágico dos sons. Trabalha com as notas como um mago-cientista trabalha com suas soluções químicas. Quero destacar obras de Stravinsky, que considero um gênio titânico. Sua ambiciosa invenção, de cunho sacro, Trehni é a obra dodecafônica mais maravilhosa que já ouvi, seus diversos concertos, sempre alegres, suas sinfonias, que são obras mais profundas e sérias, a divina obra lírica Les Noces, o Poema Sinfônico Canto do Rouxinol, que me solicita inúmeras audições, seus balés são belíssimos e revolucionários, sua obra para piano solo é digna de Ravel, sua obra coral é linda, a sua música cênica História do Soldado é mágica. Como não gostar de um gênio desses com tantas obras-primas?
Entretanto, Debussy foi o compositor que mais me envolveu em sua beleza estranha. Admiro igualmente sua obra para piano, orquestral, lírica ou de câmara. Isso é raro de ocorrer...eu gostar de todos os gêneros de um compositor. Ele criou a música moderna. E foi o único francês a se situar no mesmo patamar dos compositores alemães dos séculos anteriores a ele; logo, Debussy quebrou o círculo vicioso da hegemonia alemã sobre a música feita na Europa.

P – E a música espanhola, russa, americana, brasileira...?
D: Após pesquisas mais aprofundadas, descobri jóias na música espanhola. Compreendo mais hoje a música de Manuel de Falla e não o vejo como dependente de Debussy. Assim como Ravel, ele conseguiu se desvencilhar do Impressionismo nebuloso. Mas acho que Ravel e Bizet fizeram música espanhola tão bem quanto os próprios espanhóis. Acho que Falla é o representante mais digno da Espanha e não gostaria de comentar os outros. A América tem ótimos compositores, mas não comparáveis aos europeus. Suas orquestras são melhores que os criadores.
Os russos tentaram de tudo para se desvencilhar da hegemonia musical alemã e criaram algo interessante, mas não tão sólido. Mussorgsky é o mais genial nesta tentativa de liberdade. Gosto muito de sua música. Gosto também dos concertos de Shostakovich, algumas obras de Tchaikovsky e idolatro Stravinsky. Borodin, se não tivesse se dedicado tanto a outras atividades, teria sido o melhor compositor daquele país. O triunfo deles foi aprofundar dramaticamente o balé francês. E o Brasil...bem, você acha que Villa-Lobos pode ser comparado com um Debussy? Mignone com Chopin? Carlos Gomes com Wagner? Você compara Padre José Maurício com Bach? Bem, deixo para você a resposta.

P – E os pintores preferidos?
D: Caravaggio é o maior. Coloco no Panteão também Tintoretto, cuja obra conheci em Veneza e fiquei espantado, Correggio, Velazquez, Da Vinci, Rubens, El Greco, cujas linhas e traços me deixaram atônito em Madri e Toledo, Carracci, Cezanne, Rembrandt, Matisse, Picasso, Balthus, Robert Campin, Delacroix, Tiepolo, Ingres, a luz num quadro de Vermeer ou de Pieter Saenredam é coisa divina, mas gosto também de Boucher, Sargent, Turner, Millet, todos os impressionistas, pós-impressionistas e os modernos não-abstratos em geral. Se tivesse que escolher os que mais me emocionam, escolheria, a dedo, Vermeer, Caravaggio, Da Vinci, Turner, Toulouse-Lautrec, Tintoretto, Balthus e Rubens.

P – Gosta de Instalações, de música conceitual, eletrônica, ruído?
D: É bonito e chama a atenção, mas é como a Pop-arte; é efêmera, volúvel, cotidianiza demais a arte. É uma novidade maravilhosa na primeira noite, depois é algo digno de se esquecer. Vale pelo momento de vernissage. A música eletrônica, ruído, música de colagem, me lembra coisa de DJ de discoteca. Gosto de presenciar os artistas de hoje desafiarem os artistas do passado com partitura, notações normais, claves normais, tela, pincel e tinta. Isso gosto de ver.
Denison Rosario

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre Orlando

Orlando, esta peça espetacular, toda em rima, escrita por mim nos anos 90, é uma obra-prima. Belíssima e de história encantadora, conta a trajetória de um criado chamado Orlando, numa mansão burguesa, na Bahia. A peça toca no assunto dos sem-terra, da reforma agrária e trata do preconceito entre classes, além de tratar de um assunto delicado como a cegueira.

O forte de Orlando é a forma de a história ser contada, toda rimada, rica de uma beleza dantesca. E também de a peça destilar a cultura baiana de uma forma genuína, como só Jorge Amado fez no passado. Mas, a influência aqui não foi Amado, foi, sobretudo, a Divina Comédia. E Shakespeare, também.

Foi publicado em 2010, apesar de ser da década de 90. Só houve uma encenação no Vila Velha, em Salvador, mas, negociações em trâmites, decidirá uma encenação em Cingapura ainda este ano. O presidente da Unibook adorou o livro e pretende montar a encenação, do qual terei direito a 6% dos lucros. E, segundo consta na editora, pouco mais de 200 pessoas já adquiriram o livro (em inglês); a versão original em português só vendeu 5 exemplares até o momento (3 de janeiro de 2011).

http://www.unibook.com/Denison-Souza-do-Rosario/Orlando-(english)